Guilherme Junqueira: O futuro é tech - 15° Edição CG City!

Fundador e CEO da Gama Academy, uma das maiores startups de educação do país, fala sobre o cenário educacional no Brasil e como a tecnologia será a diferença no futuro

09/12/2022 00h00 - Atualizado em 04/10/2024 às 17h04

Por Ogg Ibrahim

atural de Campo Grande (MS), a vida de Guilherme Junqueira foi movida pela educação e pelo emprego. Para ele, a educação é a oportunidade de transformar vidas e o emprego, a possibilidade de mudar nossa própria realidade. Formado em Administração e pós-graduado em Gestão da Inovação pela UFMS, foi trainee da Ambev, fundador do StartupMS, diretor comercial da CIGAM, sócio da ClickBairro e Jera Software.

Hoje, se considera empreendedor, educador e recrutador. É fundador e CEO da Gama Academy, uma plataforma digital de habilidades tecnológicas, que transforma realidades educando e certificando competências técnicas e comportamentais. Com o propósito de formar profissionais para preencher as vagas no setor da tecnologia e do mercado digital, a empresa foi eleita como melhor startup de educação 2x no Prêmio Startup Awards, além de ser selecionada pela Singularity University como finalista do prêmio Global Impact Challenge.

Co-fundou a Associação Brasileira de Startups, uma organização sem fins lucrativos. Também, foi indicado pela Revista Forbes como um dos 30 jovens abaixo dos 30 anos mais promissores do mundo e foi eleito como um dos 10 empreendedores que mais contribuíram com o ecossistema brasileiro de startups. Confira o bate-papo com o empreendedor a seguir:

Ogg Ibrahim: O que é a Gama?

Guilherme Junqueira: Antes de explicar a Gama, acho legal conectar com duas coisas que fazem parte da minha história: a educação e o emprego. Minha vida inteira foi movimentada por esses dois grandes E’s. A educação, sempre fui bolsista, tive muitas oportunidades através dela, e o emprego, sempre vi no trabalho a forma de mudar a nossa própria realidade. A Gama nada mais é que o jeito que eu encontrei de juntar isso. As empresas de alto crescimento, as startups, crescendo e desbravando o mercado, precisavam também de talentos que acompanhassem na mesma velocidade as habilidades pedidas. A criei em 2016, com o objetivo de formar talentos para trabalhar no mercado digital, de uma maneira diferente, com habilidades diferentes e com um olhar de logística reversa: olhar primeiro as vagas que existiam e que não estavam sendo preenchidas no mercado e trazer isso para uma ementa educacional. A descrição da vaga vira a descrição de um curso, e fazemos a conexão, o atendimento da demanda, formamos talentos para essas empresas. Começamos com programação, design, marketing e vendas, que hoje representam 90% das vagas no mercado de tecnologia brasileiro. Ao longo do tempo a demanda foi aumentando pro lado hightech, de tecnologia e suas sublinhas, ciências de dados, programação para app móvel, outras aplicações. Em todo esse período, formamos mais de 40 mil alunos, esperamos chegar a 50 mil e temos mais de 700 empresas parceiras e clientes que ajudam nesse processo, até com bolsas.

OI: Se a gente voltar um pouco no passado e olhar uma fotografia de uma sala de aula de 1980, hoje é basicamente a mesma coisa. Essa formatação do ensino básico, fundamental, médio e superior está ultrapassada?

GJ: Infelizmente é o modelo padrão que nos levou a ter essas caixinhas, que a gente coloca um que ensina e vários que aprendem e entende que a educação é isso. O grande dilema é que temos um volume muito grande. É um grande trabalho personalizar e não padronizar, entregar aprendizado e não conteúdo, testar habilidades e não provas que são decoreba, então são vários dilemas que precisam ser repensados. O mundo mudou e a gente tem uma economia de acesso, de compartilhamento de conhecimento muito mais forte, alavancada pela internet. O que era linear, padronizado, previsível e repetitivo, vira um modelo de trabalho e de estudo que é extremamente exponencial e que não é mais linear, você não precisa aprender o A para aprender o B. Vamos ignorar isso? Continuar com um material didático que foi padronizado porque disseram que tem que ser assim? Então sim, a cena de sala de aula do ano que eu nasci é exatamente a cena de hoje.

OI: De uma certa forma, podemos dizer que os nossos estudantes não estão sendo preparados para o mercado?

GJ: Sim, quantos anos tem sua filha? 10 anos? Eu diria para você buscar alternativas complementares para ela aprender, além da escola, que hoje já deveriam ser parte do currículo, mas que infelizmente não é. Por exemplo: educação financeira, se tem uma coisa que a gente sabe que do começo ao final da vida a gente vai lidar e não aprende é dinheiro. Segundo, empreendedorismo. O empreendedor é um modelo mental de quem gosta de resolver problemas, atitudes que envolvem risco, mas que, ao mesmo tempo, propõe ideias criativas que poucos vão ter. O terceiro é programação, é o novo inglês. O inglês já é básico, todo mundo deveria ter e aprender, mas ainda é uma dificuldade de acesso e oportunidade, mas programação vai ser a resolução de problemas de várias carreiras, uma base para todas as profissões.

OI: Hoje em dia as estatísticas mostram que cerca de 80% dos profissionais estão descontentes com o que fazem. Você acha que isso é fruto dessa má formação que estamos tendo? Isso contribui?

GJ: Contribui e mantém uma cultura de que o trabalho é o lugar de ganhar dinheiro. Para mim, o maior erro é um pai que fala quando seu filho pergunta por que trabalhar e ele fala ‘pro papai ganhar dinheiro’. Fala que você vai conquistar o mundo, entregar propósito. Eu tenho várias cases de pessoas que mudaram a vida delas e reafirmam que eu estou no propósito certo, mas eu tenho que fazer meu filho entender isso também. Não é buscar dinheiro. Hoje a gente troca nosso tempo pelo salário. O ponto é que, devido à educação, como eu vou interpretar que essa minha hora pode valer cada vez mais? Isso só depende de mim e o maior investimento que eu tenho que fazer é no meu conhecimento, que é algo que não vai sair de mim.

OI: Então o grande dilema hoje é saber como fazer minha hora valer mais?

GJ: Sim, e você vê pessoas que estão trabalhando pra no final do mês ganhar um salário pra pagar uma conta, com isso como um motivo pra levantar segunda-feira. Isso é péssimo, é um grande sinal que você está buscando um caminho errado e dedicando todo o seu tempo, que é o bem mais precioso que a gente tem na terra, para entregar algum valor que não está sendo tão bem percebido, não está sendo reconhecido e nem mesmo remunerado, e que está te deixando infeliz.

OI: Toda essa deficiência que vem desse ensino gerou um déficit muito grande de mão de obra no mercado, estima-se que pelo menos até 2025 teremos 800 mil vagas disponíveis atrás de profissionais que não se encontram no mercado. Como suprir isso?

GJ: Esse é o desafio que eu enfrento todos os dias. Ano passado foram 45 mil pessoas formadas em graduações técnicas, para 150 mil vagas. Se olhar essa crescente, é isso aí, 800 mil novas posições de trabalho em tecnologia vão ser criadas e provavelmente não vão ser supridas, por falta de profissionais qualificados. Por isso que o país tem que estar consciente e colocando seus filhos para estudar tecnologia desde cedo, independente da graduação. Se você escolheu e tem aptidão para trabalhar com tecnologia, está garantido para os próximos 50 anos, tendo obviamente que aprender e se reinventar sempre.

OI: Mas a tecnologia é um campo muito amplo pra você fazer, então, o que fazer? Qual área buscar?

GJ: É um passo a passo muito importante. Primeiro, precisamos ser bons usuários da tecnologia para depois saber fazer a tecnologia para outros usuários. Hoje, você tem as redes sociais, que são a principal ponta de utilização de tecnologia. Lá você vai entender o algoritmo, um robozinho que está por trás, que foi escrito em um código. Você segue 5 mil pessoas, acha que o feed do insta tem 5 mil posições num celular pra mostrar todo mundo? Ele vai ter que selecionar quem ele mostra. Hoje tem controle parental na maioria dos apps, temos que deixar a criançada tomar gosto. A maior porta de entrada para jovens em tecnologia são os games, eu diria que games, redes sociais e, principalmente, começar a estudar de maneira simples. Primeiro, você já vai estar criando não só um grande lastro de conhecimento, mas também daqui a pouco uma nova fonte de receita. Os melhores programadores que eu conheço hoje começaram fazendo site da tia, do primo, do pet shop, às vezes nem era algo feito do zero, era um wix da vida, mas você vai saber mais mexer no wix que a sua tia, então vai lá e faz. Os pais têm responsabilidade de estimular, professores têm um espírito de inspirar, mas, ao mesmo tempo, acho que hoje existe conteúdo abundante, temos que saber ordenar esses estímulos.

OI: Eu vi uma reportagem que mostra que essa geração de adolescentes, entre 15 e 20 anos, é a geração com menor QI dos últimos 50, 70 anos, porque é a geração mais dependente da tecnologia. Você acha que esse excesso de tecnologia não vai fazer com que esses adultos do futuro tenham menos capacidade de se resolver? Até emocionalmente.

GJ: Vejo muito isso nos nossos alunos e alunas. Acho que a nova geração já tem um nível de frustração muito maior, um nível de paciência menor, ele foi educado/criado em uma geração do instant gratification. Quando eu chegava na escola, na minha época, eu tinha que esperar a hora do almoço pra assistir o desenho que eu queria. Hoje você nem tem que esperar, almoça vendo a Netflix. Existe um comodismo e obviamente uma zona de conforto maior, que causa essa dependência, mas a pior dependência, eu acho, é a da comparação. Existe a FOMO, “fear of missing out” (eu tenho medo de me sentir fora). Medo de ser o último, de não estar fazendo parte, o pertencimento é uma coisa do ser humano. Se as amigas estão fazendo TikTok, a adolescente vai querer fazer. O problema disso é a questão emocional, comparar o palco dos outros com os nossos bastidores e aí mora a frustração. E isso é uma coisa que a educação não resolve, mas faz parte da educação. A educação deveria ser um convite: eu te convido a aprender, te convido a emergir junto comigo. O futuro da educação, na minha cabeça, passa por mudar o ambiente e mudar o formato. A tecnologia sempre foi o meio, mas o fim é o aprendizado.

OI: Muito se fala de profissões que vão desaparecer por causa da tecnologia, quais as que você considera como importantes hoje e que realmente não vão ter mais funcionalidade?

GJ: Todas as profissões que estão muito relacionadas ao lado operacional, mas que podem ser automatizadas, tendem a diminuir, como call center, a automação que dá pra fazer em um atendimento que é mais rápido e funcional do que a gente encontra hoje. O ponto bom em tudo isso é que ao fechar uma vaga por conta da tecnologia, abre uma cadeira de estudo para uma formação em tecnologia. Esse é o nível de pensamento que a gente tem que ter para se adaptar. Assim como o taxista se adaptou, assim como o app se adaptou, temos que aderir à tecnologia, não ser contra ela e sim ser pioneiro. Usar ela rápido, mas ao mesmo tempo, entender que o core da profissão fim vai sempre se manter e vai sempre ter que ter humanos conectados por trás.

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