Por Lauren Netto
O governo do Paraguai anunciou, nesta terça-feira (01/04), a suspensão das negociações sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu com o Brasil, até que sejam esclarecidas as suspeitas de espionagem atribuídas à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A decisão foi tomada após declarações de um ex-servidor da agência, que afirmou que o Brasil teria invadido sistemas do governo paraguaio entre 2022 e 2023.
Em nota oficial, o Paraguai destacou que o posicionamento considera “o comunicado emitido na tarde de ontem (segunda-feira) pelo Governo da República Federativa do Brasil confirmando uma ordem de ação de inteligência contra o Paraguai entre junho de 2022 e março de 2023”.
A polêmica surgiu após um depoimento vazado ao portal UOL, em que um ex-integrante da Abin afirmou que a agência teria realizado uma operação para invadir sistemas paraguaios, incluindo redes do Congresso, da Presidência e de autoridades envolvidas na renegociação do acordo de Itaipu. Segundo ele, as atividades teriam começado no governo de Jair Bolsonaro e continuado nos primeiros meses da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo brasileiro negou envolvimento em qualquer ação de inteligência contra o Paraguai e afirmou que a atual administração suspendeu a operação assim que tomou conhecimento dela. "A referida operação foi autorizada pelo governo anterior em junho de 2022 e foi cancelada pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, assim que a atual administração tomou conhecimento do fato", disse o governo brasileiro em comunicado divulgado pelo G1.
Diante da situação, o Paraguai convocou seu embaixador em Brasília para consultas e chamou o embaixador brasileiro em Assunção para prestar esclarecimentos. O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, afirmou que, até o momento, o país não possui evidências concretas de que seus sistemas tenham sido invadidos.
A renegociação do Anexo C do Tratado de Itaipu é um tema sensível para os dois países. Em fevereiro, Brasil e Paraguai estabeleceram 30 de maio de 2025 como prazo final para definir os novos termos do acordo, que regula as bases financeiras da usina binacional. Com a decisão paraguaia, a continuidade das tratativas fica indefinida.