Por Lauren Netto
Mato Grosso do Sul se destaca como referência na produção de biogás e biometano no Brasil. Com capacidade para gerar 13 milhões de metros cúbicos de biogás por dia, o estado pode produzir 7 milhões de metros cúbicos diários de biometano, tornando-se um dos maiores polos de energia limpa do país.
A bioenergia no estado é impulsionada pelo setor sucroenergético, suinocultura e bovinocultura, que aproveitam resíduos da biomassa para geração de combustível renovável. Atualmente, três plantas de biometano estão em operação e uma quarta, com investimento de R$ 350 milhões, já recebeu licença para construção.
Para estimular o setor, o governo estadual reduziu a carga tributária do biometano para 12%, com crédito outorgado de até 90%. Além disso, programas como Leitão Vida e MS Renovável incentivam o uso de biodigestores e viabilizam o aproveitamento energético dos resíduos agropecuários.
Suinocultura contribui para geração de energia
Na suinocultura, o Programa Leitão Vida encerrou 2024 com 270 granjas cadastradas, sendo que 117 utilizam biodigestores e 43 já aproveitam a energia gerada, resultando em uma produção de 25 milhões de kWh por ano. Essa quantidade seria suficiente para abastecer uma cidade de 11 mil habitantes durante um ano.
Os avanços da bioenergia em Mato Grosso do Sul foram debatidos na quarta edição do Circuito Biogás nos Estados, realizado no auditório da Fiems (Federação das Indústrias de MS). O evento reuniu autoridades e especialistas do setor, incluindo Renata Isfer, presidente da Abiogás, Cristiane Junqueira Schimidt, presidente da MSGÁS, e Amaury Pekelman, presidente da Biosul.
Durante a abertura, o secretário da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, destacou os investimentos estratégicos no setor de biogás e biometano.
Ele citou o impacto da Atvos, que investiu R$ 350 milhões na construção da maior usina de biometano do mundo, localizada em Nova Alvorada do Sul. O grupo também anunciou a construção de mais duas usinas de etanol de milho no estado, ampliando a capacidade de produção de energia renovável.
Estado pode liderar produção nacional de biogás
A presidente da Abiogás, Renata Isfer, reforçou o potencial do estado no setor.
"O Estado tem um grande potencial, com mais de 7 milhões de metros cúbicos de biometano por dia, enquanto a produção nacional atual é de apenas 840 mil metros cúbicos. O maior potencial vem do setor agropecuário, especialmente de resíduos de suinocultura e dejetos da bovinocultura, seguidos pelo setor agrícola e plantas de tratamento de esgoto", explicou.
A diretora-presidente da MSGÁS, Cristiane Junqueira, também destacou que Mato Grosso do Sul pode se tornar protagonista nacional na produção de biogás. Atualmente, o estado ocupa a oitava posição no ranking nacional.
"Esse é um mercado incipiente. Hoje temos apenas três plantas em operação, com uma já autorizada e duas em processo de liberação, somando cerca de 160 mil metros cúbicos por dia. Se o setor agropecuário e a indústria enxergarem o potencial, podemos nos tornar grandes produtores de biometano", afirmou.
O presidente da Fiems, Sérgio Longen, destacou a importância do setor industrial na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para biocombustíveis.
"Lá atrás, quando construímos o Instituto Senai de Inovação em Três Lagoas, acreditamos que seria possível avançar no biogás e nos biocombustíveis. Hoje isso é uma realidade. A indústria precisa de energia competitiva, e o gás que estamos discutindo hoje confirma esse avanço", disse Longen.
Energia renovável e descarbonização
O secretário Jaime Verruck ressaltou o papel do biometano na redução de emissões de carbono, destacando o caso da JBS, que recentemente substituiu o gás natural pelo biometano em suas operações.
"Nosso Estado é um grande produtor de energia elétrica de biomassa, exportando mais de 50% da energia que gera", afirmou Verruck, reforçando o protagonismo de Mato Grosso do Sul na produção de energia limpa.
Ele também frisou a importância de fortalecer a infraestrutura energética do estado para atrair novos investimentos industriais.
"A disponibilidade de energia renovável é um diferencial competitivo para empresas que necessitam de grandes volumes de energia para suas operações", disse o secretário.
Por fim, Verruck destacou a necessidade de avançar na regulamentação do setor, com certificação de biocombustíveis e aprimoramento da legislação.
"O setor de bioenergia oferece muitas oportunidades. Com um marco legal bem estruturado, nosso Estado estará preparado para continuar se destacando no cenário nacional e internacional como um polo de inovação e sustentabilidade", concluiu.