Em meio à disputa comercial com os EUA, China faz megacompra de soja brasileira

Em três dias, chineses compram o equivalente a mês e meio de soja brasileira, em reação à guerra comercial

14/04/2025 00h00 - Atualizado há 2 meses

Por Lauren Netto

A tensão comercial entre China e Estados Unidos voltou a crescer — e o Brasil está colhendo os frutos. Importadores chineses fecharam, apenas nos últimos três dias, a compra de pelo menos 40 navios de soja brasileira, o que equivale a 2,4 milhões de toneladas. A quantidade de soja comprada pelos chineses é tão grande que, normalmente, levaria cerca de um mês e meio para ser adquirida do Brasil

Os contratos firmados nesta semana preveem embarques de maio a julho e marcam um novo capítulo no processo de "desamericanização" das importações agrícolas da China.

O movimento também reforça a consolidação do Brasil como principal fornecedor de soja ao país asiático. Dados da alfândega chinesa mostram que a participação brasileira nas importações de soja subiu de 46% em 2016 para 74% entre janeiro e novembro de 2024. Já os Estados Unidos perderam espaço: caíram de 40% para apenas 18% no mesmo período.

A crescente dependência do Brasil acontece em meio ao agravamento das disputas comerciais. De acordo com a Foreign Policy, as mudanças na política de importação da China — maior compradora global de grãos — têm gerado impactos duradouros no cenário agrícola dos EUA.

Nos Estados Unidos, a reação é de alerta. O presidente da Associação Americana de Soja, o agricultor Ragland, do Kentucky, afirmou que os laços com a China foram "completamente cortados" e que os altos encargos tarifários quase extinguiram os canais de exportação de produtos agrícolas para o país asiático. “Se a situação continuar, os agricultores americanos poderão ir à falência até 2027”, alertou.

Só em 2025, 88 fazendas americanas já entraram com pedidos de falência, frente a 50 no mesmo período do ano passado, segundo a Bloomberg. O New York Times relembra que a última guerra comercial, entre 2018 e 2019, gerou perdas de exportações para a China acima de US$ 25 bilhões.

No Congresso americano, legisladores de estados agrícolas têm manifestado preocupação com os efeitos da nova crise comercial. Um fazendeiro, que votou três vezes em Donald Trump, resumiu o sentimento de incerteza: “Todo o sangue, suor e trabalho duro que investimos nisso poderiam ser eliminados com uma tarifa”.


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