Por Lauren Netto
Com mais de 98 mil km² de extensão só em Mato Grosso do Sul, o Pantanal terá, em 2025, uma nova etapa na estratégia de proteção contra incêndios florestais. O Governo do Estado está em fase de preparação da Operação Pantanal 2025, que inclui desde o treinamento de equipes até a instalação de bases avançadas em regiões remotas do bioma, possibilitando ações mais ágeis no combate ao fogo e apoio direto às comunidades locais.
Desde o ano passado, dentro do plano estadual de manejo integrado do fogo, o Corpo de Bombeiros Militar de MS já colocou em operação 11 dessas bases, posicionadas em áreas de difícil acesso e com histórico recorrente de incêndios.
Uma dessas estruturas funciona na Barra do São Lourenço, na região da Serra do Amolar, às margens do Rio Paraguai, a cerca de 220 km de Corumbá. Lá, a pantaneira Vicentina Íris de Souza, de 68 anos, diz se sentir mais segura com a presença dos militares. “Se a gente precisa de alguma coisa eles estão sempre prontos. Eu achei muito bom eles aqui. Eles socorrem a gente no que podem, a gente também socorre no que podemos”, relatou, enquanto os bombeiros ajudavam a cortar lenha.
“Meu marido fez uma cirurgia e não consegue segurar o machado, mas os bombeiros estão aqui do nosso lado, e trouxeram a motosserra. É uma diferença grande que faz na vida da gente. Eu me sinto maravilhada”, contou Vicentina. Em agradecimento, ela ofereceu aos bombeiros um punhado de mandioca, gesto típico das relações de vizinhança na região.
A base da Serra do Amolar, em funcionamento contínuo desde maio do ano passado, foi montada em uma antiga escola, transformada em ponto de apoio estratégico para ações de controle do fogo. Segundo a tenente-coronel Tatiane Dias de Oliveira Inoue, do CBM-MS, a presença das equipes vai além da prevenção. “Quando estabelecemos as bases avançadas, inicialmente pensou-se nas atividades de prevenção aos incêndios florestais, educação ambiental, e diminuir o tempo de resposta, trazendo a estrutura para mais próximo. Mas a riqueza da interação com essa comunidade local, ela é muito maior, ultrapassa qualquer estratégia desenhada para essa região. Acaba sendo muito maior do que qualquer atividade de resposta. Interagir com a comunidade faz toda a diferença”.
A atuação rápida da base já evitou desastres. Em abril de 2024, um incêndio que começou no Mato Grosso ameaçava atravessar a fronteira estadual. Graças à instalação acelerada da base do Amolar, os militares atuaram ainda do lado mato-grossense. “Mesmo assim, pelas condições atmosféricas, esse incêndio ultrapassou a margem e atingiu apenas 9 hectares. A gente fez um cálculo e se tivesse que deslocar, com a estrutura do município de Corumbá, que era a referência até então, esse incêndio poderia, num dia, atingir mais de 200 hectares”, relatou Inoue.
De acordo com o major Eduardo Teixeira, subdiretor da Diretoria de Proteção Ambiental (DPA) do Corpo de Bombeiros, a presença antecipada nas áreas mais vulneráveis tem sido decisiva. “Nós temos uma identificação das chamas com bastante agilidade, especialmente com o uso do sensor remoto e por comunicação com os residentes, que informam a gente praticamente no surgimento do foco”, afirmou. “Nós conseguimos mobilizar nossas equipes entre 3 e 4 horas, e antes demorava 7 a 8 horas de deslocamento”.
As 11 bases previstas para a Operação Pantanal 2025 contam com estrutura de alimentação, água potável, geradores, pontos para recarga de drones e manutenção dos equipamentos. A escolha dos locais considera a vegetação, a direção predominante dos ventos e a frequência de incêndios, como explica Teixeira: “Temos algumas bases nas margens dos rios São Lourenço e Piquiri para evitar que eventuais incêndios passem do Mato Grosso para o Mato Grosso do Sul. E todas são usadas como apoio para as equipes ao longo do Rio Paraguai, no Forte Coimbra. E para combater inclusive os incêndios que vêm da Bolívia”.
Na comunidade escolar da região, a presença dos bombeiros também é valorizada. Na Escola Municipal Rural de Educação Integral Polo São Lourenço, com 32 alunos, muitos já viveram o impacto direto dos incêndios. Luiza Godoy Rodrigues, 19, e Thaila de Jesus, 15, lembram a evacuação do local devido à fumaça. “Desta vez saímos da escola principalmente por causa da fumaça, que era muita”, disse Thaila. Já Luiza destaca a tranquilidade por ter os bombeiros por perto: “É a primeira vez que estão realmente perto da gente e sabemos que se precisar eles chegam rápido”.
O professor Emílio Carlos Moraes, de matemática, reforça a importância da presença dos militares. “No ano passado tivemos orientações do Corpo de Bombeiros, sobre evacuação, mas não tínhamos experiência. Saímos do prédio da escola, devido à quantidade de fumaça, o fogo estava perto, ficou em volta. Ficamos fora por aproximadamente três dias. O que os bombeiros nos ensinam é importante”, disse.
A base do Amolar funciona como referência para toda a região. O subtenente Leonardo Leite, natural do Pantanal, atua diretamente na instalação e manutenção da estrutura. “Estamos sempre auxiliando a comunidade e eles sabem que podem contar conosco para tudo, cortar uma madeira, arrumar um barco. É assim que vizinho se trata, e o pantaneiro é muito receptivo”.
Enquanto o trabalho se intensifica, os bombeiros mantêm a rotina: organizam equipamentos, cozinham, reformam espaços e navegam pelas curvas do Rio Paraguai. O sargento Dorival Pereira, de Aquidauana, foi quem assumiu a cozinha na última missão. Já o sargento Carlos Alberto pilota a lancha que transporta a equipe, conhecendo cada trecho do rio com apoio da comunidade. “É muito importante essa interação”, resume.
Com estrutura, logística e presença constante, a Operação Pantanal 2025 promete ampliar ainda mais a capacidade de resposta e prevenção aos incêndios florestais no bioma, preservando o meio ambiente e valorizando as comunidades que vivem na região.