Presídio de Campo Grande inicia graduação para internas em regime semiaberto

Iniciativa busca oferecer novas perspectivas de vida e contribuir para a remição de pena

28/04/2025 00h00 - Atualizado há 2 meses

Por Lauren Netto

Pela primeira vez, internas do Estabelecimento Penal Feminino de Regimes Semiaberto e Aberto de Campo Grande iniciaram cursos de graduação. A iniciativa, inédita na unidade, reflete um movimento que já se consolida em outras prisões de Mato Grosso do Sul, oferecendo esperança e novas perspectivas para reeducandos e reeducandas.

O projeto teve início com a adequação de um espaço físico específico dentro da unidade prisional, viabilizado com apoio da Diretoria de Administração e Finanças (DAF) da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen). A nova sala foi estruturada para atender tanto cursos presenciais quanto de Ensino a Distância (EAD).

Foram disponibilizados três computadores seminovos com acesso à internet, permitindo às internas se matricularem em instituições de ensino superior e acessarem o ambiente virtual de aprendizagem de forma individualizada, com login e senha próprios.

Na última semana, três internas deram início à graduação em cursos EAD de Pedagogia, Sociologia e Segurança no Trabalho, por uma faculdade particular. As estudantes dividem o tempo entre os estudos, das 7h30 às 10h, e o trabalho no Fórum. Os custos dos cursos são arcados pelas próprias reeducandas.

A ação contou com apoio da Diretoria de Assistência Penitenciária (DAP), através da Divisão de Educação, que orientou as internas sobre as instituições disponíveis e o processo de matrícula. A Divisão também articula junto à Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab) a oferta de cursos profissionalizantes adicionais.

Entre as alunas está G.T.S.C.G., que iniciou o curso de Sociologia. Mãe solteira, Gláucia relatou que, durante muitos anos, precisou deixar o sonho dos estudos de lado para cuidar dos filhos. “Agradeço a dedicação da unidade penal por nos permitir começar a realizar uma parte do nosso sonho. Além disso, também posso ter remição na pena e voltar para minha vida”, disse, emocionada.

Também cursando o ensino superior, J.F. da C. destaca a educação como chance de recomeço. Mãe de dois filhos, ela afirmou que deseja construir um futuro melhor para a família. “O motivo é simples: quero mostrar que nunca é tarde para recomeçar. Desde o dia que cheguei aqui, venho lutando para isso. Combinando o estudo ao trabalho, poderei voltar para casa o quanto antes. Agradeço por tudo”, declarou.

A diretora da unidade, Cleide Nascimento, ressaltou que o início da graduação representa mais que uma conquista individual. "A educação se apresenta, mais uma vez, como um caminho potente de reconstrução e dignidade, capaz de romper ciclos, acender novas esperanças e abrir portas onde antes, muitas vezes, só havia muros", afirmou.

Cleide acrescentou que o número de internas matriculadas no ensino superior deve crescer com a chegada de mais equipamentos e o interesse de outras reeducandas. Ela explicou que, embora as internas possam estudar fora da unidade com autorização judicial, a possibilidade de cursar o ensino superior dentro do presídio facilita a rotina, especialmente para aquelas que trabalham durante o dia e precisam estudar à noite.

Dados da Divisão de Educação da Agepen indicam que atualmente 78 reeducandos e reeducandas do sistema prisional de Mato Grosso do Sul cursam o ensino superior, um faz pós-graduação, enquanto 632 estão matriculados no ensino médio e 1.423 no ensino fundamental.


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