Por Redação
O Brasil registrou uma queda de 32,4% na área desmatada em 2024 em relação ao ano anterior, conforme os dados consolidados do Relatório Anual do Desmatamento (RAD), apresentados nesta quarta-feira (14) pelo Mapbiomas. A redução também foi observada nos alertas de desmatamento, que caíram 26,9%. Ao todo, o país perdeu 1.242.079 hectares de vegetação nativa e contabilizou 60.983 alertas ao longo do ano.
Cinco dos seis biomas brasileiros tiveram queda no desmatamento. O Pantanal liderou com redução de 58,6%, seguido pelo Pampa (-42,1%), Cerrado (-41,2%), Amazônia (-16,8%) e Caatinga (-13,4%). A exceção foi a Mata Atlântica, que apresentou aumento de 2%.
Segundo o Mapbiomas, 89% da área desmatada no país se concentrou na Amazônia e no Cerrado. As formações savânicas representaram 52,4% do total, enquanto as florestais, 43,7%.
O coordenador geral do Mapbiomas, Tasso Azevedo, atribuiu a estabilidade da Mata Atlântica a perdas causadas por eventos climáticos. “Se não tivesse os desmatamentos que foram computados por conta dos eventos extremos, o desmatamento teria sido 20% menor”, explica.
Em média, 3.403 hectares foram desmatados por dia em 2024, o que equivale a 141,8 hectares por hora. O dia com maior perda foi 21 de junho, quando 3.542 hectares de vegetação foram eliminados. No Cerrado, a média diária foi de 1.786 hectares.
Na avaliação dos pesquisadores, a redução geral pode estar associada a três fatores: a criação de planos de combate ao desmatamento para todos os biomas, o aumento da atuação dos estados nas ações de embargo e autuações, e o uso de dados ambientais na concessão de crédito rural. “Nesses últimos anos, foram construídos planos de enfrentamento ao desmatamento para todos os biomas, o que não havia antes. Outra questão é que aumentou a participação dos estados nas ações em relação ao desmatamento, em termo de atuarem mais nos embargos e autuações feitas pelo Ibama. O terceiro fator é a questão do crédito rural. Houve um aumento do uso desses dados para a concessão de crédito rural”, explica Tasso.
Apesar da tendência de queda, o Cerrado continuou sendo o bioma mais desmatado do país, com a perda de mais de 652 mil hectares. “Essa mudança ocorreu pela primeira vez em 2023. A gente sempre teve historicamente o desmatamento concentrado em regiões da Amazônia. Esse ano, os dois biomas tiveram uma redução, mas ainda manteve o padrão anterior, porque o desmatamento do Cerrado foi maior que o da Amazônia”, alerta Marcos Rosa, coordenador técnico do Mapbiomas.
Na divisão regional, a Amacro (confluência agropecuária de Amazonas, Acre e Rondônia) teve queda de 13% no desmatamento em 2024, totalizando 5.753 alertas em 89.826 hectares. Em contrapartida, o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 42% da perda de vegetação nativa no Brasil e 75% do total desmatado no Cerrado.
Juntos, os quatro estados do Matopiba e o Pará foram responsáveis por 65% do desmatamento no país. Maranhão, Pará e Tocantins lideraram o ranking, com 17,6%, 12,6% e 12,3% da área desmatada, respectivamente.
Na comparação anual, Goiás, Paraná e Espírito Santo apresentaram as maiores quedas percentuais — acima de 60%. Já Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Acre registraram os maiores aumentos. “No Rio Grande do Sul, todos os desmatamentos que estavam associados a eventos extremos aconteceram na Mata Atlântica e não nos Pampas”, explica Natália Crusco, da equipe Mata Atlântica do Mapbiomas.
Entre abril e maio, os eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul causaram perda de 2.805,8 hectares de vegetação nativa, distribuídos em 627 alertas.
Mais da metade dos municípios brasileiros (54%) tiveram ao menos um evento de desmatamento validado em 2024. No Piauí, os municípios de Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal registraram os maiores aumentos proporcionais.
Nas terras indígenas, a área desmatada caiu 24% em 2024, somando 15.938 hectares, o que corresponde a 1,3% do total no país. A Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) liderou em desmatamento, com perda de 6.208 hectares — um aumento de 125% em relação ao ano anterior. Apenas 33% das terras indígenas do país tiveram algum tipo de desmatamento.
Já nas Unidades de Conservação (UCs), houve redução de 42,5% em relação a 2023, com perda total de 57.930 hectares. A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu (PA), na Amazônia, foi a mais desmatada, com 6.413 hectares.
Sobre as autorizações para desmatamento, o relatório aponta que 43% da área desmatada em 2024 teve algum tipo de liberação oficial. O Cerrado lidera com 66% de vegetação suprimida com autorização, seguido pela Amazônia com 14%.
O estado do Maranhão foi destacado como o que menos forneceu dados públicos sobre autorizações e fiscalização. “Depois de várias tentativas, chegamos a receber duas bases de dados, mas as informações de autorização, por exemplo, tinham restrição e nós não pudemos usar, então, o estado do Maranhão segue com essa dificuldade de dar transparência a essas informações ambientais para o controle do desmatamento”, diz Marcondes Coelho, pesquisador do Instituto Centro de Vida (ICV) e colaborador do Mapbiomas.
Em análise histórica desde 2019, o RAD aponta que o Brasil já desmatou 9.880.551 hectares em seis anos, sendo 67% na Amazônia Legal. A agropecuária é responsável por mais de 97% da perda de vegetação nativa no país nesse período.