Pesquisadora da Embrapa, Mariangela Hungria é a primeira mulher brasileira a receber o "Nobel da agricultura"

A cientista é reconhecida internacionalmente por desenvolver tecnologia que reduz a dependência de fertilizantes químicos

15/05/2025 00h00 - Atualizado há 1 mês

Por Redação

A cientista brasileira Mariangela Hungria, de 67 anos, foi a vencedora do Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize) de 2025, conhecido como o "Nobel da Agricultura", concedido pelos Estados Unidos. Pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Hungria foi reconhecida por seu trabalho voltado ao aumento da produtividade agrícola sem o uso de fertilizantes químicos.

Criado para homenagear contribuições relevantes à qualidade e disponibilidade de alimentos no mundo, o prêmio já foi concedido anteriormente a três brasileiros: os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli, em 2006, por estudos sobre a agricultura no cerrado; e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2011, por suas políticas de combate à fome durante o segundo mandato, período em que "a renda dos 10% mais pobres cresceu 91,2% no Brasil", culminando na saída do país do Mapa da Fome da ONU em 2014.

Mariangela Hungria se destacou por propor soluções biológicas como alternativa ao uso intensivo de insumos sintéticos. Sua pesquisa sobre fixação biológica de nitrogênio permitiu o uso de microrganismos capazes de tornar o nitrogênio do ar absorvível pelas plantas, sem necessidade de fertilizantes industriais.

A BBC destacou que os produtos desenvolvidos por Hungria já foram aplicados em mais de 40 milhões de hectares no Brasil, gerando uma economia de US$ 25 bilhões por ano – o equivalente a R$ 127,5 bilhões – em fertilizantes e outros insumos.

Segundo ela, "com o uso de fertilizantes químicos, seriam necessários cerca de seis barris de petróleo para cada tonelada de nitrogênio produzido". Além disso, o uso desses produtos emite grandes volumes de gases do efeito estufa: “a cada 1 kg de nitrogênio, são lançados à atmosfera cerca de 10 kg de CO₂”.

O Brasil é o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos, sendo responsável por cerca de 8% da demanda global. No entanto, mais de 80% do que é utilizado no país é importado, “a despeito da existência de grandes reservas de matérias-primas em seu território”. O desperdício no uso também é elevado, chegando a 40%, segundo um Estudo Estratégico sobre a agricultura brasileira.

Na busca por alternativas, Hungria pesquisou bactérias como os rizóbios, que interagem com raízes de leguminosas por meio de inoculantes — produtos que substituem o uso de fertilizantes químicos e aumentam a produtividade em até 8% em comparação ao uso convencional.

Ela também foi pioneira no uso comercial da bactéria Azospirillum brasilense, especialmente para culturas como feijão e soja — dois dos principais produtos de exportação do agronegócio brasileiro.

Professora da Universidade Estadual de Londrina e integrante da Academia Brasileira de Ciências, Hungria recebeu em março de 2025 o Prêmio Mulheres e Ciência, oferecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), instituição da qual também foi bolsista por anos.

Apesar dos avanços, os bioinsumos ainda representam apenas 10% do mercado de insumos agrícolas no Brasil. Além disso, 85% deles são importados. “Falta investir mais em pesquisa e em indústrias”, afirmou Hungria à BBC, “para diminuir nossa dependência e o Brasil alcançar a agricultura que a gente sonha: de alta produtividade, mas cada vez mais sustentável”.


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