Por Redação
Uma onça ferida presa em uma manilha, um jacaré "ilhado" cercado pelo fogo e uma ave refugiada no último galho de uma árvore são cenas reais que ilustram o impacto dos incêndios florestais na fauna pantaneira. Para garantir a segurança desses animais, o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul investiu em uma capacitação especializada.
Entre os dias 12 e 15 de maio, cerca de 30 militares participaram do curso de Resgate Técnico Animal (RTA), oferecido pelo Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap), vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), em parceria com a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
O treinamento, que ocorreu no Biotério da UCDB, no Instituto São Vicente e na Fazenda Escola da universidade, teve como foco preparar os bombeiros para capturar e resgatar com segurança tanto a fauna silvestre quanto os animais domésticos durante incêndios e outras ocorrências.
"O nosso objetivo foi habilitar os profissionais da linha de frente no combate aos incêndios florestais e também nas ocorrências rotineiras do Corpo de Bombeiros, para que possam realizar a captura, o resgate e o deslocamento adequado dos animais — tanto da fauna silvestre quanto dos domésticos", explica a bióloga e médica veterinária Paula Helena Santa Rita, coordenadora operacional do Gretap.
A capacitação combinou módulos teóricos e práticos sobre medicina veterinária de desastres, biossegurança, ética no manejo animal, contenção de pequenos e grandes animais e técnicas específicas para aves, répteis e mamíferos, com atenção especial a serpentes e crocodilianos — espécies comuns no Pantanal.
As atividades incluíram simulações realistas, onde os militares atuaram em trios, replicando as condições de campo. A formação foi concluída com uma simulação geral de resgate técnico animal, colocando à prova o conhecimento adquirido.
Para o soldado Sérgio Leite, do Corpo de Bombeiros, a capacitação é fundamental. "Com as instruções, principalmente sobre ofídios, como as serpentes, aprendemos muito a diferenciar as espécies e a saber como agir. Isso ajuda bastante nas missões, porque além de operarmos em várias regiões, conseguimos orientar os moradores dessas áreas mais distantes e aplicar melhor o conhecimento adquirido."
Leite destaca ainda os desafios no manejo de grandes animais: "Com serpentes, temos algumas instruções no nosso curso de formação, que ajudam a improvisar. Mas, com animais maiores, a contenção exige mais estrutura e equipamentos específicos."
Outro participante, o soldado Rodrigo Bastos, do 3º Subgrupamento de Bombeiros de Chapadão do Sul, comenta sobre a relevância do curso diante da realidade dos incêndios no Pantanal. "Estamos participando de um treinamento cada vez mais necessário nas ações do Corpo de Bombeiros, especialmente em situações como os incêndios no Pantanal."
Ele acrescenta: "Muitos animais fogem das queimadas e acabam entrando em cidades ou fazendas, e precisamos estar preparados para agir com segurança e eficiência. Aprendemos técnicas importantes, como a captura de jacarés e serpentes — espécies muito afetadas pelo fogo. Saímos mais capacitados e aptos a repassar esse conhecimento, o que fortalece toda a corporação e garante mais segurança para todos, inclusive para os próprios animais."
O curso de RTA integra o plano oficial do Corpo de Bombeiros para a preparação estratégica na temporada de incêndios e está alinhado com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para resposta a desastres. Implementado desde 2021 em Mato Grosso do Sul, o treinamento será ampliado em 2025 para outros grupos do estado.
O aprimoramento das técnicas tem resultado em respostas mais rápidas, maior segurança para as equipes e bem-estar dos animais resgatados. "O restabelecimento desses animais, na maioria das vezes, acontece no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), com bons índices de sucesso, inclusive para reintrodução na natureza", conclui Paula Helena Santa Rita.