Descoberta arqueológica: 'Vale perdido de cidades' de dois mil anos foi encontrado na Amazônia do Equador

Os assentamentos foram ocupados pelo povo Upano entre 500 a.C. e 300 a 600 d.C

12/01/2024 00h00 - Atualizado em 15/01/2024 às 19h19

Por redação

Arqueólogos encontraram um conjunto de cidades perdidas na densa Floresta Amazônica do Equador, que abrigava mais de dez mil agricultores há cerca de dois mil anos. A descoberta, inicialmente identificada por Stéphen Rostain há mais de duas décadas, foi finalmente esclarecida por meio de mapeamentos avançados com tecnologia de sensor a laser. Os resultados, publicados na revista científica Science na última quinta-feira (11), revelam uma rede intricada de assentamentos e estradas ocultos nas colinas dos Andes, ocupados pelo povo Upano entre 500 a.C. e 300 a 600 d.C.

Os montículos de terra e estradas enterradas, que permaneceram enigmáticos por anos, agora se revelaram como parte de uma vibrante civilização que prosperou por cerca de mil anos. A tecnologia de sensor a laser permitiu a visualização detalhada dessa rede de assentamentos, proporcionando insights sobre a cultura Upano durante um período que coincidiu com o auge do Império Romano na Europa. A descoberta destaca a complexidade histórica da região amazônica, desafiando concepções anteriores sobre a ocupação humana nas densas florestas equatorianas.

"Era um vale perdido de cidades", disse Rostain, que lidera as investigações no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. "É incrível". Edificações residenciais e cerimoniais erguidas em mais de 6 mil montículos de terra eram circundadas por campos agrícolas com canais de drenagem. As maiores estradas tinham 10 metros de largura e se estendiam por 10 a 20 quilômetros.

População - Embora seja difícil estimar a dimensão da população, o local abrigava pelo menos 10 mil habitantes - e talvez até 15 mil ou 30 mil em seu auge, afirmou o arqueólogo Antoine Dorison, coautor do estudo, do mesmo instituto francês. Isso é comparável à população estimada da Londres da Era Romana - na época, a maior cidade da Grã-Bretanha.

"Isso mostra uma ocupação muito densa e uma sociedade extremamente complicada", disse o arqueólogo da Universidade da Flórida, Michael Heckenberger, que não esteve envolvido no estudo. "Para a região, está realmente em uma categoria própria em termos de quão precoce é."

José Iriarte, arqueólogo da Universidade de Exeter, afirmou que seria necessário um sistema elaborado de trabalho organizado para construir as estradas e milhares de montículos de terra. "Os Incas e Maias construíam com pedra, mas as pessoas na Amazônia geralmente não tinham pedra disponível para construir - eles construíam com barro. Ainda assim, é uma quantidade imensa de trabalho", disse Iriarte, que também não esteve envolvido na pesquisa.

A Amazônia é frequentemente considerada como uma "natureza intocada com apenas pequenos grupos de pessoas". No entanto, descobertas recentes têm mostrado o quão mais complexo realmente era o passado" da floresta, disse ele.

Recentemente, cientistas também encontraram evidências de sociedades intricadas na floresta tropical que antecederam o contato europeu em outras partes da Amazônia, incluindo na Bolívia e no Brasil. "Sempre houve uma incrível diversidade de pessoas e assentamentos na Amazônia, não apenas uma maneira de viver", disse Rostain. "Estamos apenas aprendendo mais sobre eles".


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