Por redação
O aproveitamento do espaço urbano para a criação de hortas e pomares emerge como uma resposta crucial diante da crise climática global, revela uma pesquisa que comparou práticas em São Paulo e Melbourne, Austrália. O estudo, liderado pelo engenheiro ambiental Luís Fernando Amato-Lourenço, doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e pós-doutor pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) e pela Freie Universität, de Berlim, aponta que a produção de alimentos nas áreas urbanas pode trazer benefícios significativos, incluindo o aumento da umidade do ar e a promoção da biodiversidade.
A agricultura urbana, antes vista como uma proposta utópica, agora é reconhecida como uma necessidade urgente. O estudo, intitulado "Building knowledge in urban agriculture: the challenges of local food production in São Paulo and Melbourne", foi apoiado pela FAPESP e destaca diferenças marcantes nas abordagens adotadas em São Paulo e Melbourne. Em Melbourne, a agricultura urbana é integrada a estratégias de saúde pública, incentivando atividades físicas e combatendo o sobrepeso e a obesidade.
Em contraste, em São Paulo, as iniciativas são predominantemente de caráter socioeducativo ou voltadas para a geração de renda em áreas periféricas. A regulamentação da atividade agrícola urbana em Melbourne, incluindo a definição de áreas para hortas e testes de solo, contrasta com a natureza mais efêmera das iniciativas em São Paulo, que frequentemente dependem do trabalho voluntário e desaparecem rapidamente. A pesquisa destaca a criatividade e inovação como características distintivas das práticas paulistanas, enquanto em Melbourne a organização é mais proeminente.
A pesquisa também revela uma crescente disposição da população em aderir à agricultura urbana, embora as iniciativas voluntárias sejam mais desafiadoras de quantificar. Em São Paulo, entre 2017 e 2028, foram registradas 323 unidades de produção agropecuária, envolvendo 802 pessoas diretamente na produção. Na região Sul, onde a agricultura é mais expressiva, a atividade é tipicamente familiar, com 64% da população ocupada composta por proprietários.
A discussão sobre hortas verticais, como as encontradas nos topos de edifícios, ganha destaque, sendo uma prática adotada em cidades como Barcelona, Berlim e São Paulo. O potencial de São Paulo para a implementação dessas hortas nos topos dos edifícios é destacado, não apenas para a produção local de alimentos, mas também para mitigar as ilhas de calor urbanas.
A professora Thais Mauad, coordenadora do Projeto SPRINT, destaca os benefícios da agricultura urbana em meio às mudanças climáticas, incluindo a expansão da cobertura vegetal, a permeabilidade do solo, o aumento da umidade do ar, a promoção da biodiversidade e a contribuição para a segurança alimentar em situações extremas. No entanto, ressalta a necessidade de políticas públicas duradouras para promover essas práticas e enfrentar os desafios da crise climática.