A partir de antas, pesquisadores descobrem alta contaminação de moradores de MS por agroquímicos e metais

Pesquisa foi realizada pelo Incab nos municípios de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina (MS)

17/02/2024 00h00 - Atualizado em 18/02/2024 às 06h50

Por redação

Pesquisa realizada pelo Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), revelou alta contaminação de moradores de Nova Andradina e Nova Alvorada do Sul, cidades sul-mato-grossenses, por agroquímicos e metais. O estudo foi feito cinco anos depois dos pesquisadores observarem a mesma contaminação em antas que viviam na região.

Conforme o Instituto, a anta é uma espécie sentinela, de modo a ser utilizada para detectar riscos ou perigos a elas mesmas e a outras espécies, incluindo seres humanos. Por esta razão, a presença das substâncias nas antas levantou a preocupação nos pesquisadores sobre a saúde das comunidades vivendo na região em que os animais foram amostrados.

O INCAB-IPÊ obteve a licença nº5.576.386, do Comitê de Ética da Plataforma Brasil. Nos municípios, 94 moradores integraram o estudo e enviaram amostras para serem analisadas. Os pesquisadores detectaram cinco agroquímicos durante a pesquisa, sendo dois Organofosforados (Glifosato e Malathion) e três Organoclorados (pp’DDD, Dieldrin e Beta-BHC). Do total, 36 pessoas testaram positivo para algum tipo de agrotóxico, sendo que, em alguns casos, há mais de um químico presente.

Do total de participantes, 78 foram testados para o glifosato em amostra de urina. Este é o herbicida mais utilizado no Brasil e possui potencial cancerígeno, segundo estudos. O glifosato se mostrou presente em 25 pessoas.

Segundo o médico e doutor em Doenças Infecciosas, Maurício Pompílio, o organismo humano é capaz de metabolizar e eliminar diversas substâncias. "Entretanto as moléculas de vários agrotóxicos podem se depositar no corpo e causar danos aos órgãos e tecidos, como fígado, rins, pele e sistema nervoso. A depender da dose no corpo, pode levar inclusive à morte".

O Instituto explica, ainda, que a anta brasileira já apontava para esse cenário de contaminação durante o estudo realizado entre 2015 e 2018. O estudo gerou um relatório técnico e um artigo científico que foi publicado na revista científica internacional Wildlife Research, em 2021. Durante os anos da pesquisa, amostras biológicas de antas foram coletadas, principalmente de carcaças frescas de animais atropelados ao longo de 34 rodovias do Mato Grosso do Sul, particularmente a BR-262, BR-267 e MS040. Nos animais amostrados foi possível detectar 13 compostos químicos diferentes, incluindo nove pesticidas e quatro metais.

"Passamos a utilizar as antas como sentinelas na detecção de compostos químicos em áreas dedicadas à agricultura e pecuária – particularmente as grandes monoculturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão. Começamos a pensar que, sendo as antas sentinelas e nos mostrando quais são os compostos presentes no ambiente, as comunidades humanas nessas regiões estariam também expostas a esses químicos. A gente espera que, com esse conjunto mais amplo de resultados, seja possível iniciar uma conversa com os órgãos governamentais, os laboratórios, as empresas do agronegócio que estão envolvidas com essa cadeia de utilização dos agrotóxicos em nosso país", explica a pesquisadora e coordenadora da INCAB-IPÊ, Patrícia Medici.


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