Por Denilson Cardozo
Me recordo da minha infância na fazenda, em Juti, MS. Cercado de afeto e carinho, todos os dias, às 04h30 da manhã, o cheiro do café exalava pela casa como um sinal de boas-vindas. Minha mãe buscava, pontualmente, o leite no mangueiro para que junto a ele, se tornasse parte da primeira refeição que nos prepararia para o dia que viria. Sempre simples. Para a garrafa, três colheres de café e duas de açúcar. Tão simples que se tornava único para uma receita em que a réplica nunca foi alcançada com sucesso, pelo detalhe das mãos de minha mãe, que o fazia com todo amor do mundo.
Na minha adolescência, já em Campo Grande, o café da tarde tinha o horário e medidas exatas. Exato pelo fato de que todas as xícaras eram contadas e o café nunca sobrava. O que não o tornava menos importante, visto que as conversas em torno dele eram sempre as melhores.
Um ponto interessante é que o café sempre esteve presente. Quando não o encontrávamos nas prateleiras de casa, o caminho até o vizinho motivava o encontro entre amigos e conversas jogadas fora. Sempre com suas receitas em particular, nunca faltava a união e o cuidado no preparo para tornar o que atualmente chamo de profissão.
Hoje, atuando como barista, um profissional do café, acredito que as escolhas que nos geram o desejo de tomá-lo são formadas para além do efeito energético que a bebida proporciona, mas também das sensações que temos e das memórias que carregamos ao ingerir esse líquido que carrega consigo as lembranças de diversos momentos vividos. O barista que sou hoje, além de todo estudo envolvido, cafés experimentados e sabores aguçados, notas de amor, afeto e uma longa história são adicionadas ao enredo que me levou a escolher a profissão que herdei do carinho de minha mãe e avó.
O que torna um café especial, além das notas, escolhas dos grãos, acidez, entre outros aspectos, é o afeto que envolve cada ml desse líquido que promove encontros (quando uma visita especial chega em casa) e despedidas (quando a visita decide ir embora e você passa um café a fim de que ela fique um pouco mais).
Neste caminho de apreciação pelo café, não posso deixar de enaltecer as mulheres extraordinárias que moldaram minha relação com essa bebida e com o mundo ao meu redor. Desde minha mãe, cujas mãos habilidosas preparavam o café da manhã com tanto carinho, até minha avó, cujas histórias e tradições enriqueceram minha paixão pelo café. São elas que me inspiram todos os dias a infundir cada xícara com amor e afeto, lembrando-me de que o verdadeiro valor do café vai muito além do seu sabor e aroma. É o vínculo humano, o cuidado e a união que o cercam que tornam cada gole tão especial e significativo. Sou eternamente grato por essas mulheres incríveis que me ensinaram que o verdadeiro segredo para um café perfeito está no coração.