Por Andrella Okata
Pesquisadores do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) fizeram uma descoberta histórica na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, localizada na Serra do Amolar, Pantanal. Pela primeira vez em 15 anos de monitoramento, câmeras fotográficas armadas no local registraram a presença do gato-mourisco avermelhado (Herpailurus yagouaroundi), um fenótipo raro da espécie, que até então não havia sido observado na região.
O feito foi descrito no artigo científico "Camera trapping reveals the reddish phenotype of jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi) on the western border of Brazilian Pantanal", publicado recentemente na revista Mammalia. A pesquisa foi coordenada pela doutora em Ecologia Grasiela Porfírio, uma das principais responsáveis pelo monitoramento da fauna pantaneira.
Segundo a pesquisa, a descoberta teve início em novembro de 2022, quando as câmeras registraram pela primeira vez a presença do gato-mourisco vermelho. Desde então, houve outros seis registros independentes, sugerindo que mais de um indivíduo pode habitar a região. A espécie é extremamente difícil de ser monitorada, devido à sua natureza reclusa e à sua classificação como vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Em 15 anos de monitoramento na RPPN Acurizal, as câmeras fotográficas haviam registrado apenas 18 imagens da espécie, todas de gatos-mouriscos com pelagem acinzentada. Os pesquisadores associam essa aparição de indivíduos com pelagem avermelhada, característica de habitats mais abertos, com a possíveis mudanças ambientais na região.
A hipótese levantada pelos pesquisadores é que o fenótipo avermelhado do gato-mourisco possa ser resultado das alterações climáticas, que estariam tornando o Pantanal mais seco e, consequentemente, mais propenso ao desenvolvimento desse tipo de pelagem. Acredita-se que esses indivíduos possam ter migrado da Bolívia, onde o gato-mourisco vermelho já é registrado, para as áreas protegidas do Pantanal brasileiro, incluindo a Serra do Amolar.
O estudo, que contou com o apoio do Fundo de Meio Ambiente & Mudanças Climáticas da Brazil Foundation, o coautor Diego Viana, e teve ainda a colaboração de outros pesquisadores, como Mariana Queiróz, Geovani Tonolli, Wener Hugo Arruda Moreno, Sergio Eduardo Barreto, Paula Cardoso de Lima, Angélica Guerra, Betina Kellermann e Josiel Oliveira.