Estudo indica que remédios como Ozempic e Mounjaro podem reduzir comportamentos viciantes

Além de combater a obesidade, remédios apresentam benefícios no tratamento de vícios e transtornos

26/01/2025 00h00 - Atualizado em 26/01/2025 às 05h24

Por Lauren Netto

Um dos maiores estudos já realizados sobre medicamentos como Ozempic, Mounjaro e Wegovy revelou que, além de auxiliar no controle de diabetes e obesidade, esses remédios apresentam potencial para reduzir comportamentos viciantes e até mesmo beneficiar pacientes com distúrbios neurocognitivos e transtornos mentais. A pesquisa foi publicada na última segunda-feira (20) na revista Nature Medicine.

O estudo analisou dados de quase 216 mil pacientes diabéticos atendidos nos Estados Unidos, acompanhados por um período médio de 3,7 anos. Esses pacientes utilizaram agonistas do receptor de GLP-1, uma classe de medicamentos que inclui Wegovy, da Novo Nordisk, e Zepbound, da Eli Lilly. O estudo identificou que os medicamentos podem ajudar a controlar impulsos, sugerindo benefícios no tratamento de vícios como alcoolismo, dependência de opioides e até comportamentos alimentares compulsivos.

“Esses medicamentos estão nos ajudando a compreender as bases da obesidade. O controle eficaz da doença requer abordagens que lidem com o comportamento viciante em relação à comida, e é isso que os GLP-1s parecem fazer”, afirmou Ziyad Al-Aly, coautor do estudo e diretor do Centro de Epidemiologia Clínica do Veterans Affairs St. Louis Health Care System.

Resultados positivos e desafios

Entre os benefícios apontados, os GLP-1s foram associados a uma redução no risco de transtornos relacionados ao uso de álcool, maconha, opioides e estimulantes. Além disso, o estudo sugeriu que esses medicamentos podem ter efeitos protetores contra Alzheimer, demência e até transtornos de saúde mental como a depressão.

No entanto, foram observados riscos como aumento na probabilidade de pancreatite aguda, pressão arterial baixa, desmaios e cálculos renais. Esses efeitos colaterais reforçam a necessidade de mais estudos clínicos direcionados, especialmente para avaliar a segurança e eficácia em diferentes perfis populacionais.

Outro ponto destacado foi o impacto econômico e social desses medicamentos. De acordo com estimativas, o uso generalizado dos GLP-1s poderia reduzir em até 29 milhões de litros o consumo de álcool nos Estados Unidos em 2024, segundo relatório da BM Country Risk & Industry Research.

Potencial no tratamento de saúde mental

Embora preocupações iniciais tenham sido levantadas sobre possíveis pensamentos suicidas associados ao uso dos medicamentos, a Agência Europeia de Medicamentos concluiu que não há relação causal. Pelo contrário, o estudo reforça indícios de que esses remédios podem ter efeitos antidepressivos e contribuir para a melhora cognitiva, como memória e concentração.

Rodrigo Mansur, professor associado de psiquiatria na Universidade de Toronto, estuda o impacto da semaglutida — ingrediente ativo do Ozempic e Wegovy — em pacientes com sobrepeso e depressão. Ele espera apresentar resultados que mostrem avanços na cognição, uma área ainda pouco explorada nos tratamentos contra a depressão.

“Esses medicamentos podem representar uma abordagem transformadora para a saúde mental, mas precisamos de mais estudos clínicos para compreender seu verdadeiro alcance”, afirmou Mansur.


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