Cachoeira do Rio do Peixe é recuperada após secar completamente

Projeto envolveu monitoramento ambiental e correção do solo para desobstrução do rio

15/02/2025 00h00 - Atualizado há 4 meses

Por Lauren Netto

A cachoeira do Rio do Peixe, uma das maiores de Mato Grosso do Sul, voltou a ter queda d’água após passar por um processo de recuperação ambiental. Localizada no município de Rio Negro, a formação de aproximadamente 70 metros havia secado completamente em outubro do ano passado, levantando preocupações sobre os impactos da estiagem e de possíveis interferências no curso do rio.

O trabalho de recuperação foi conduzido pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização dedicada à preservação do bioma, e envolveu cerca de 20 pessoas atuando em uma área de 40 hectares. O projeto incluiu monitoramento por satélite, correções no solo e a remoção de obstruções que impediam o fluxo da água. A ação contou ainda com o apoio da Polícia Militar Ambiental e de proprietários das terras por onde o rio passa.

Causas da seca

O biólogo e analista Sérgio Barreto, que acompanhou o projeto, disse à Folha de S. Paulo que o alerta surgiu quando a equipe notou a cachoeira sem água. Segundo ele, embora a região tenha enfrentado uma das piores secas dos últimos anos, a ausência de chuvas, por si só, não explicava a interrupção total da queda d’água.

“O Rio do Peixe é um dos principais afluentes do Rio Negro, que tem grande importância para o Pantanal. Além disso, ele é essencial para a reprodução de peixes da região, que utilizam o local para desova”, explicou Barreto.

As investigações identificaram que o fluxo da água estava comprometido por barreiras formadas tanto pela vegetação – consequência da erosão e do desmatamento – quanto por intervenções humanas. Em alguns trechos, o rio teve seu curso alterado para abastecer propriedades rurais, reduzindo o volume de água que chegava até a cachoeira.

Etapas da recuperação

O trabalho começou ainda no final de 2023, com foco na desobstrução do curso da água e na correção do solo. Com o retorno das chuvas em dezembro, o fluxo do rio aumentou, consolidando os efeitos da recuperação. Segundo Barreto, todo o processo, que incluiu monitoramento, testes e execução, levou cerca de quatro meses.

Uma segunda fase da ação, que ainda está em andamento, envolve a recuperação da mata ciliar, fundamental para estabilizar o ecossistema e evitar novos bloqueios naturais.

“Isso é o que faz com que o rio tenha estabilidade. Mas quando a gente fala em recuperação com plantio, a resposta é um pouco mais longa”, afirmou o biólogo.

Impacto e perspectivas

A expectativa dos especialistas é que a cachoeira não volte a secar completamente neste ano, mesmo diante da possibilidade de uma nova estiagem.

“Ela pode reduzir seu fluxo a níveis muito baixos, mas não é mais para secar. Se isso acontecer, vamos avaliar e fazer um novo levantamento”, explicou Barreto.

Além de seu papel ecológico, a cachoeira do Rio do Peixe tem grande importância para a economia e a cultura de Rio Negro. O local movimenta o turismo na região e sustenta atividades como a pesca de subsistência, essenciais para os moradores.

A recuperação da cachoeira representa um avanço na preservação do Pantanal, um bioma já fragilizado pelas secas e queimadas intensificadas nos últimos anos.


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