Rota Bioceânica reduz distâncias e fortalece competitividade do agro sul-mato-grossense

Corredor internacional abre espaço para diversificação da produção e novos investimentos

19/02/2025 00h00 - Atualizado há 4 meses

Por Lauren Netto

A Rota Bioceânica está prestes a redefinir a logística do agronegócio em Mato Grosso do Sul, conectando o estado diretamente aos portos do Pacífico e facilitando o acesso a mercados asiáticos e da Oceania. Com esse avanço, os produtores rurais precisam se preparar para as mudanças estruturais e econômicas que acompanharão a concretização do corredor. O tema está sendo debatido no Seminário Internacional da Rota Bioceânica, realizado nesta semana com a participação de representantes do Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.

Segundo o Governo do Estado, a nova rota, que passa por Porto Murtinho, percorrerá um trajeto de 2.396 quilômetros. O trecho inclui 430 km entre Campo Grande e Porto Murtinho, 559 km no Paraguai, 977 km na Argentina e 430 km no Chile. Esse caminho encurtará a distância para exportações ao Chile e a outros países, reduzindo em 5.479 km a viagem até a China, que passará a ser feita em 18.677 km, contra os 24.156 km atuais. Além de otimizar as exportações, a infraestrutura abrirá portas para mercados da Costa Oeste das Américas e da Oceania.

Com a conclusão do projeto, Mato Grosso do Sul se consolidará como um ponto estratégico para o escoamento da produção agropecuária. O presidente do Sistema Famasul, Marcelo Bertoni, destaca que a mudança tornará os produtores mais competitivos no comércio internacional.

“A infraestrutura logística vai fortalecer a competitividade do agronegócio regional. Com isso, os produtores podem se beneficiar das novas possibilidades comerciais e de exportação, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração de Mato Grosso do Sul com mercados internacionais”, afirma Bertoni.

A nova rota também reduzirá significativamente o tempo de transporte, permitindo que produtos agropecuários cheguem mais rápido ao mercado asiático. Segundo estimativas, a redução pode chegar a 12 dias, aumentando a eficiência logística do setor.

Logística colaborativa reduz custos

A estruturação do corredor bioceânico trará um novo modelo de transporte, baseado na chamada “logística colaborativa”, conforme explica João Carlos Parkinson, coordenador nacional dos Corredores Rodoviários e Ferroviários Bioceânicos pelo Ministério das Relações Exteriores.

“Atualmente, os caminhões saem cheios e retornam vazios, o que eleva o custo do frete. No corredor, as empresas formarão parcerias e as cargas serão armazenadas em áreas específicas, permitindo uma redistribuição mais eficiente. O cruzamento dos Andes, por exemplo, será feito por motoristas argentinos ou chilenos, especializados nessa rota”, explica Parkinson.

Essa mudança trará ganhos operacionais aos produtores sul-mato-grossenses, permitindo o acesso a novos mercados com maior previsibilidade e menor custo logístico.

Novos mercados e oportunidades para o agro

Além de impulsionar a pecuária e culturas agrícolas já consolidadas no estado, a Rota Bioceânica pode estimular a diversificação da produção. Entre os segmentos em expansão, a citricultura tem demonstrado grande potencial, assim como o desenvolvimento de outras frutíferas e produtos processados, como o amendoim. A piscicultura também pode se beneficiar da nova estrutura logística.

“Inicialmente, os produtos do agro com maior potencial para exportação são carnes, alimentos processados e celulose. Já as importações poderão incluir fertilizantes e insumos agrícolas, reduzindo a dependência de outras rotas logísticas e otimizando custos”, analisa Bertoni.

A infraestrutura da Rota Bioceânica também impulsionará o crescimento de cidades ao longo do trajeto, como Porto Murtinho (Brasil), Carmelo Peralta (Paraguai), Pozo Hondo (Paraguai) e Missão La Paz (Argentina). Além do impacto econômico, a integração entre os países deve fomentar o intercâmbio cultural, turístico e educacional, fortalecendo as economias locais.

Desafios para a implementação completa

Algumas obras ainda estão em andamento para a concretização da rota, como a construção da ponte binacional entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, a finalização do contorno rodoviário na BR-267 e o asfaltamento da estrada Picada 500, no Chaco paraguaio. A iniciativa foi incorporada ao projeto Rotas de Integração Sul-Americana, que busca acelerar obras estratégicas nas regiões fronteiriças do Brasil.

Parkinson ressalta que a transição para esse novo modelo logístico exigirá um esforço conjunto dos setores público e privado.

“Estamos criando um corredor em uma região de fronteira que esteve por muito tempo negligenciada. A mudança do eixo logístico do Atlântico para o Pacífico requer transformações profundas. O próprio empresário precisará entender que ele também pode ser exportador e protagonista da sua logística”, afirma o coordenador.


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