A partir da década de 1970, o território brasileiro foi o principal cenário da Revolução Agrícola Tropical Sustentável, cujo objetivo era garantir que a população tivesse acesso mais fácil e barato a alimentos de necessidade básica. A visão audaciosa e inovadora de Alysson Paulinelli, na época Ministro da Agricultura, propiciou avanços exponenciais de produção no Brasil e possibilitou a difusão de tecnologia, para que outros países tropicais desenvolvessem também o seu potencial agrícola.
“Produzir mais alimentos com menor uso de recursos naturais, explorando a ciência e a inovação tecnológica, para modernizar a agropecuária brasileira e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente.” Eu anotei essa frase quando assisti uma palestra do Alysson em 2017, a sua trajetória me encantou; e quando eu soube de suas indicações ao Prêmio Nobel da Paz 2021 e 2022, fiquei eufórica, mas boquiaberta quando percebi que poucas pessoas conhecem o seu legado.
O grande vilão da atualidade poderia ser o mocinho da sociedade? Tem que ter muita ousadia para assumir que em menos de duas décadas o Brasil passou a ser autossuficiente na produção de alimentos e que em meio século deixou de ser importador, para um dos maiores exportadores mundiais de alimentos. Os pilares de sustentação para o avanço do setor foram três, e evidenciam que o “simples” bem feito dá resultados surpreendentes: ciência, tecnologia e capacitação humana.
Paulinelli iniciou o modelo agrícola tropical sustentável com a reabilitação integral dos solos inférteis do Cerrado, possibilitando a recuperação do bioma e a produção de soja, milho, algodão, carne e leite. Para tanto, de forma suscinta, ele incentivou a pesquisa nas universidades agrárias, impulsionou a expansão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criou a Empresa Brasileira de Extensão Rural (Embrater).
No ano de 1975, a produção brasileira de cereais e oleaginosas era de 39,4 milhões de toneladas, enquanto a safra de grãos 2021/2022 está estimada em 289,6 milhões de toneladas, sete vezes maior. Ao mesmo tempo, a área plantada que era de 32,8 milhões de hectares, apenas dobrou para 65,2 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A sustentabilidade econômica, social e ambiental continua norteando o setor. O Brasil possui 54% da área do bioma do Cerrado com cobertura vegetal natural, e tem quase 20% do comércio internacional de alimentos básicos. A Embrapa tem 2.424 pesquisadores, 1 unidade sede e 42 unidades descentralizadas de pesquisa em prol da garantia da segurança alimentar de maneira sustentável. Somos destaque internacional por projetos agropecuários com resultados satisfatórios na redução de impactos climáticos, como o Sistema de Plantio Direto (SPD), Plano ABC e a Integração Lavoura Pecuária Floresta.
Desenvolver tecnologia, incentivar o seu uso pelo produtor rural, aumentar de forma sustentável a produção de alimentos e fazê-los chegar à mesa das famílias brasileiras. O caminho é nobre e já foi muito desbravado por pessoas visionárias, como Alysson. Esse é o prêmio mais honroso que o Brasil tem.
Mas o percurso ainda é longo e desafiador. Instiga a minha geração, e as próximas que virão, a desenvolver, como sociedade, ações que propiciem a todos os brasileiros o acesso à comida de verdade,de qualidade e nutritiva.
LINK|-|https://drive.google.com/file/d/1U-ATDcjcQWCPlTRuS_X7qrckwr7xrTDS/view?usp=sharing|-|9° Edição CGCity!