O aumento da prevalência da obesidade, principalmente no Brasil, onde mais de 20% das pessoas têm essa condição, não é um fenômeno recente, mas recebeu grande destaque nos últimos dois anos. A epidemia do coronavírus ampliou a consciência e preocupação sobre as doenças que podem ser agravadas pela obesidade. Um exemplo é o diabetes mellitus tipo 2, doença crônica que vem aumentando muito no país, provavelmente em razão da obesidade, e que é fator de risco para doenças como hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, entre outras.
O alerta para as complicações culminou em uma maior procura por tratamentos contra a obesidade. Contudo, esses tratamentos ainda são muito estigmatizados por argumentos antigos de que “basta comer menos” e por julgamentos de pessoas que veem o processo de perda de peso apenas com finalidade estética, o que acaba afastando aqueles que realmente podem se beneficiar com uma melhor condição de saúde.
O preconceito afasta o paciente do profissional de saúde, levando ao autotratamento por meio da busca por substâncias não aprovadas e de “dicas” de pessoas não treinadas, o que aumenta os riscos de complicações. Assim, devido à ineficácia dessas alternativas, surge a frustração e a sensação de que “nunca vai dar certo”. Segundo estudos, o tempo médio que uma pessoa leva a procurar um profissional de saúde após a primeira tentativa de perda de peso é de 6 anos!
O tratamento para obesidade vem evoluindo muito e diminuir o preconceito é o primeiro passo. Normalizar o acesso ao tratamento o torna eficaz, seguro e com foco em saúde, principalmente mental, que pode ser muito sensibilizada pelas tentativas malsucedidas de perda de peso.
A boa notícia é que estamos diante de uma inovação nesse tratamento: os análogos de GLP-1, medicação de aplicação subcutânea. O GLP-1 é um hormônio existente no nosso organismo que sinaliza para o cérebro quando recebemos algum alimento no intestino. Essa medicação age no receptor desse hormônio, mimetizando o seu efeito sem necessariamente haver alimentação. A consequência é maior saciedade, redução dos impulsos para comer, dentre outros efeitos, levando à perda de peso.
No Brasil, o exemplo é a Liraglutida, (nome comercial: Saxenda) de aplicação diária. O fármaco já é liberado com indicação em bula para o tratamento da obesidade e tem obtido bons resultados, inclusive com proteção cardiovascular. Outro exemplo é a Semaglutida (nome comercial: Ozempic - aplicação semanal), já aprovada nos EUA para tratamento da obesidade. Um estudo demonstrou resultados inéditos dessa mediação, com média de perda de peso acima de 15%.
Vale lembrar que para todas as medicações existem os pacientes “não-respondedores”, por isso é tão importante a indicação médica, com avaliação individualizada de cada paciente e de seu padrão alimentar. Além disso, é essencial o acompanhamento com endocrinologista durante todo o tratamento, para auxiliar não só na perda de peso, como na manutenção do peso perdido. Em um tratamento tão difícil como o da obesidade, quanto mais opções, mais chances de atingirmos o êxito.
Os novos medicamentos mudarão a história do tratamento da obesidade, cabe a nós diminuir o preconceito contra eles.
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