O noticiário nacional sobre a vacinação contra a covid-19 vem informando os estados que mais aplicaram vacinas proporcionalmente à sua população. Nesse pódio, Mato Grosso do Sul tem se destacado, figurando reiteradamente entre as cinco primeiras posições, tanto na aplicação da primeira dose, quanto da segunda dose do imunizante ou dose única.
Estudiosos e acadêmicos ainda levarão algum tempo para explicar, criteriosamente, as razões para um ou outro estado liderar a vacinação. Ainda assim, é possível deduzir que fatores culturais e institucionais afetam o resultado, como a mentalidade predominante da população e a estruturação do sistema de saúde local. Quaisquer que sejam as conclusões dos especialistas, uma coisa já pode ser dita, a julgar pelo desempenho de MS na vacinação, o Brasil precisa olhar de forma não preconceituosa para todas as regiões.
Estados com populações pequenas e economias não centrais, como as de São Paulo ou Rio de Janeiro, têm muito a ensinar a todo o país. Aliás, MS tem uma característica singular no Brasil: é o único local onde o PIB per capita do estado aumenta quando não se considera o PIB per capita de sua capital. Em todos os outros, a retirada da capital desta aritmética reduz o PIB per capita de todo o estado. Isso indica que MS é menos dependente de sua capital para tornar a população do estado mais rica, característica que pode ter influenciado o ritmo da vacinação.
Não há bem e mal, mocinhos e bandidos, heróis ou vilões quando se trata de avaliar cada estado do Brasil. É mais adequado tomar a vivência de cada ente como um leque de experiências positivas e negativas, algumas passíveis de serem exportadas para todo o país e outras que dificilmente funcionariam de maneira apropriada em outro estado. Por isso, é fundamental estudar e entender o que vem ocorrendo no MS no que diz respeito à rapidez da vacinação.
O Brasil foi formado a partir de várias modalidades de ocupação econômica e territorial, dentre as quais se destacaram: a cultura agrária do Nordeste, baseada nas grandes plantações de cana de açúcar; a cultura da mineração de pedras preciosas, que deu o nome a Minas; a ocupação do oeste paulista, com a cultura do café baseada na mão-de-obra livre; e, por fim, as atividades econômicas portuárias, que deram uma marca inconfundível ao Rio de Janeiro. Agora, o que sabemos da formação da região que veio a resultar no MS? Fora do próprio estado, provavelmente muito pouco ou quase nada.
Quando se afirma, nas redes sociais, que o brasileiro precisa ser estudado, em geral vêm em mente acontecimentos ou comportamentos inusitados e negativos. Acho que seria o caso de esquecer a natureza pejorativa desta afirmação e dizer que o sul-mato-grossense precisa ser estudado porque temos muito a mostrar para o Brasil acerca de uma imunização emergencial veloz. É possível que os procedimentos adotados em MS sejam efetivos em outros estados, mas só saberemos se entendermos as razões do sucesso e tentarmos compartilhá-las com os outros estados. Que fique a lição: o Brasil tem muito a aprender com o Brasil.
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