Das curvas mais generosas à barriga chapada, é possível identificar desde os primórdios a existência de um padrão de beleza. Questões culturais, temporais e até mesmo biológicas são algumas das variáveis responsáveis pelas particularidades do que é socialmente considerado “belo”.
Você já deve ter visto a famosa estátua da Vênus de Milo, datada de 130 a.C., e percebido as referências da época: curvas generosas, rosto pouco angulado e mais angelical. Outra época marcante foi a Era do Ouro de Hollywood, em meados de 1940, com a emblemática Marylin Monroe e seu corpo curvilíneo com cintura fininha, objeto de desejo naqueles tempos.
E quem se lembra das top models da década de 90? Altas, magras e com curvas apenas nos seios. Junto a isso, cresceu a popularização dos distúrbios alimentares. Se hoje vivemos um padrão, nem sempre foi assim. O conceito de beleza tende ao efêmero e volátil, marcando gerações, sem, contudo, se encaixar a todos.
Atualmente, temos em nossas mãos os filtros das redes sociais, que alteram nossa aparência, deixando-nos ‘jovens e com a pele perfeita’ em segundos. Se, por um lado, nos levam a uma satisfação imediata, por outro, podem levar à dependência ou até a uma crise de autoestima quando somos colocados à frente do (real) espelho de casa. Os filtros carregam e ratificam esses tais padrões.
Com forte influência da mídia, as pessoas são incitadas a associar beleza com juventude e, consequentemente, com saúde. Essa busca aumentou drasticamente a assiduidade e exigências dentro do consultório do dermatologista.
Verdade seja dita: se bem indicados, procedimentos estéticos são uma potente forma de reforçar a autoestima perdida com os sinais da idade. Mas, e quando esses limites são ultrapassados e restam infindáveis autocobranças, comparações e frustrações? A dermatologia estética vem para ressaltar e reparar eventuais danos do tempo, sempre deixando de lado as temíveis produções em série.
Há uma tendência dentro da nossa área que visa realçar a beleza de forma natural. A pandemia teve grande impacto nesse sentido: assumir os cabelos naturais, a transição capilar, sobrancelhas com fios menos alinhados e maquiagem mais leve. A Cosmiatria - área da dermatologia destinada à beleza - tem a função de lapidar as potencialidades de acordo com senso estético (e ético), escutando as demandas de cada paciente e entregando o resultado mais elegante possível. Perder as características individuais e a identidade que faz cada ser humano único nunca deve ser aceito por um profissional capacitado.
Qual seria, então, o conceito de beleza? Acredito ser raso definir apenas como uma pele bem cuidada. Beleza é palavra indissociável ao espírito leve. É atrelada à essência e enraizada no jeito de viver e encarar a vida com energia e alegria.
Os atuais recursos estéticos podem lhe ajudar a renovar os votos do estar bem consigo mesmo, esteticamente, mas nunca a empurrar no penhasco que é a luta inglória na busca da “fonte da beleza eterna”. O conceito é mais amplo do que imaginamos. A padronização nunca terá espaço no que é belo. Não somos e nunca seremos moldes, e é exatamente aí, nesse ponto, que mora a verdadeira beleza.