A Apple pede desculpas por mais um comercial. Parece brincadeira, mas em menos de cinco meses a trilionária marca da maçã precisou arquivar do seu Youtube um filme publicitário pelo motivo que todos nós sabemos. Sim, o mundo está chato e é difícil se acostumar.
Em maio a empresa publicou um vídeo em que uma máquina compactava dezenas de coisas, como instrumentos musicais, caixas de som, latas de tinta, estátuas... pressionava até que virassem um único e fino objeto: o novo iPad. A ideia de mostrar que o iPad concentrava todas as funções daqueles instrumentos poderia ser boa, não fosse o fato de ser idêntico a um comercial de celular da LG de 2008.
Todavia, a reciclagem de ideias não é novidade na publicidade, nem na marca em questão (pesquise por Braun e Apple), mas o motivo da polêmica foi outro: a interpretação do público do X. O que chocou os críticos e atraiu um enxame de haters foi que a máquina estava “esmagando nossa cultura” com suas morsas metálicas. Mas não seria exatamente isso que a internet faz quando silencia vozes reduzindo os debates ao escárnio, subjugando, cancelando e lacrando?
A Apple cedeu. E aqui ela cometeu um erro grave, ao invés de cair atirando, deu espaço para que a Samsung capitalizasse sobre sua tragédia e lançasse um filme-resposta mais pronto que mistura de bolo, para o deleite dos haters.
Seria um episódio para o esquecimento, mas o suprassumo ainda estava por vir... A Big Tech que hoje é dona de estúdios de cinema, streaming e autora de megaproduções audiovisuais, lançou um filme de dez minutos com uma atmosfera de “Se beber, não case” contando as desventuras de uma equipe corporativa na Tailândia, os Underdogs.
Prato cheio para os haters locais. Segundo os críticos, o vídeo utiliza de artimanhas para transmitir uma imagem da Tailândia como um país inferior, explorando o tom sépia, as vestimentas, o trânsito. Dessa vez, houve até político tailandês pedindo boicote à marca do alto de seu palanque. “Retrataram a Tailândia como um país subdesenvolvido e tecnologicamente atrasado”.
Nessa hora eles aparecem. Com um total de zero ideias para alavancar uma transformação socioeconômica no país, os políticos sobem em palanques para gerar cortes para as redes sociais. Toda e qualquer fagulha é estopim para aquecer sua base de eleitores enraivecidos. Ora, eu preferiria a mídia espontânea à fama de chato. Mas isso é minha opinião, visto que, ser chato e vociferar sobre as coisas na rede social, talvez passe uma boa impressão atualmente. Ou, quiçá, eles apenas sofram do mesmo vírus do viralatismo militante que a gente.
Voltemos a Apple.
Digamos que retratar um país subdesenvolvido dessa forma tenha sido um pecado e tanto. Porém, não seria um pecado maior assumir essa posição de vulnerabilidade e mostrar para o mundo que não sabe o que está fazendo?
Melhor eu ficar na minha, se a Apple com todo esse poderio financeiro e de mídia não pode enfrentar os críticos de internet, que dirá eu, pobre mortal.