Porque nos boicotamos?

12/10/2024 00h00 - Atualizado em 13/10/2024 às 01h02

Na nossa sociedade atual é cada vez mais comum nos depararmos com frases e imperativos do tipo: se dedique, se você pode sonhar você pode realizar, só depende de você... em contrapartida, nos casos em que o resultado não sai como o esperado, a Psicanálise nos faz questionar: será que somos tão preguiçosos, pouco esforçados e dedicados como gostaríamos de pensar?

Sigmund Freud conhecido como o pai da psicanálise tentou compreender porque o indivíduo muitas vezes assume uma postura tão desvantajosa em relação a si mesmo ou falando no português mais claro “porque se boicota” fazendo aquilo que sabe que não será o melhor para si, como por exemplo comer demais ate se sentir mal, insistir em dar chances para aquela pessoa que já provou não ser tão confiável, enfim são tantas situações do dia a dia que acredito que cada um tenha seus exemplos particulares para pensar. Tentando chegar a alguma resposta Freud criou a célebre frase: o Eu não é senhor da sua própria casa.

Mas o que será que esse senhor quis dizer com tal afirmação? Mais um vez, indo na contramão do que supostamente é compreendido na nossa sociedade, ele afirma que existe uma infinidade de coisas que não podem ser acessadas e compreendidas pela nossa consciência. É como explicaríamos a situação hipotética aonde “conscientemente/racionalmente” eu sei que deveria pular fora daquele barco furado que só me da dor de cabeça, mas mesmo assim insisto naquela situação. É graças a força que os conteúdos inconscientes tem na nossa vida, nós querendo e assumindo ou não.

Nos colocamos a repetir padrões de comportamento sem nem perceber que estamos fazendo. E por isso a importância de um outro (psicanalista) para ouvir aquilo que se repete na fala do sujeito em sofrimento. É o que acontece por exemplo quando uma pessoa tem o ex namorado “encarnado" no atual, pois as queixas continuam as mesmas mesmo que com uma pessoa diferente ou aquele sujeito que incessantemente se sente atacado, preterido pelas pessoas ao seu redor, não importando as circunstancias algo se repete. Isso nos leva a pensar: “será que isso é do outro ou diz muito sobre mim e meus conteúdos internos?”.

Somos seres tão complexos e cheios de camadas. Muitas vezes dizemos aquilo que não queríamos dizer, sentimos aquilo que não queríamos sentir e para compreendermos o porque disso é preciso sair do raso. Uma metáfora conhecida e que pode clarear nossa compreensão é o exemplo de um iceberg. A parte de cima do bloco de gelo que é visível aos olhos e facilmente acessada por nós seria representada pela nossa consciência, enquanto a parte escondida, submersa, recalcada e pasmem, que representa a maior parte do bloco, seriam os nossos conteúdos inconscientes. É claro que não quero dizer aqui que nós não temos controle de nada, que os projetos não dependam da nossa dedicação e vontade, porem vemos indivíduos cada vez mais frustrados por ‘nadar, nadar e morrer na praia’, trombando nos mesmos empecilhos e problemas ‘invisíveis’ quando muitas vezes o trabalho psíquico exigido para trazer à luz aquilo que está na escuridão precisa ser mais profundo.


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