A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, em seu segundo mandato, marcando-o como o 45º e 47º presidente do país, reacendeu debates sobre protecionismo, sustentabilidade e geopolítica. O impacto dessas decisões ultrapassa as fronteiras americanas, alcançando mercados globais e afetando diretamente o Brasil e o nosso Mato Grosso do Sul. A pergunta que todos deveriam se fazer é: como o estado pode transformar essas mudanças globais em oportunidades estratégicas? Neste artigo, exploro com você esses desdobramentos e como MS pode se posicionar como líder em economia verde e inovação agroindustrial.
Protecionismo Comercial: ameaça ou oportunidade para o agronegócio de MS?
Uma das primeiras medidas anunciadas por Trump foi a imposição de tarifas sobre produtos chineses e a reavaliação de acordos comerciais multilaterais, como a Parceria Transpacífica. (Fonte: Reuters).
Impacto direto no Brasil
• Acesso ao mercado americano: Produtos brasileiros, como o aço e o etanol, já enfrentam barreiras nos EUA. Para Mato Grosso do Sul, isso significa desafios diretos para setores como o de carne bovina e soja, que dependem de acesso competitivo ao mercado americano. Com novas tarifas, exportadores de soja e carne bovina podem ser afetados.
• Mercado chinês: As tensões entre EUA e China podem beneficiar Mato Grosso do Sul. Em 2022, a China foi o destino de 70% da soja exportada pelo Brasil (Fonte: Valor Econômico). Em 2024, a soja manteve-se como o principal produto de exportação de Mato Grosso do Sul, totalizando US\$ 2,812 bilhões, o que representa 32,41% do total exportado pelo estado (Fonte: G1). A China permaneceu como o maior mercado consumidor, responsável por 47,33% do faturamento total das exportações sul-mato-grossenses, destacando-se na compra de soja, celulose e carne bovina congelada. Esse volume reforça o estado como um dos principais fornecedores para o mercado chinês. Com tarifas americanas, a demanda chinesa pode migrar ainda mais para o Brasil, beneficiando diretamente os produtores sul-mato-grossenses.
Oportunidade para Mato Grosso do Sul
• Infraestrutura: Para capturar esse aumento de demanda, MS precisa melhorar sua logística. Investir em ferrovias (como a Ferroeste), ampliar portos secos na região e aproveitar à Rota Bioceânica são ações essenciais. A conexão com o Pacífico, viabilizada pela Rota Bioceânica, pode reduzir custos logísticos e ampliar mercados para o agronegócio do estado.
• Certificação: Apostar em certificações de sustentabilidade pode tornar os produtos do estado mais atraentes em mercados exigentes como o europeu.
A nova economia verde e o Pantanal como diferencial estratégico
Trump tem um histórico de minimizar o impacto das mudanças climáticas e priorizar combustíveis fósseis. Isso, porém, cria um contraste interessante: enquanto os EUA se afastam de iniciativas verdes, o mundo caminha na direção oposta. (Fonte: The New York Times).
A força do Pantanal
• O Pantanal, maior área alagada do mundo, é um ativo único. Mato Grosso do Sul tem a oportunidade de transformar essa riqueza em um ativo econômico, com iniciativas que conectem preservação ambiental e geração de renda.
• Turismo sustentável: Projetos que combinem a preservação do Pantanal com o ecoturismo podem atrair investidores estrangeiros e ampliar o PIB do estado.
Ação estratégica
• Créditos de carbono: Mato Grosso do Sul pode se posicionar como exportador de créditos de carbono, atraindo recursos de empresas globais que buscam compensar emissões.
• Agro sustentável: Iniciativas como agricultura regenerativa e sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta podem tornar o estado um exemplo global de produção sustentável.
Impacto da COP30
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), será realizada no Brasil em 2025, reunindo líderes mundiais, cientistas, ONGs e empresas para discutir ações climáticas e metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. Mato Grosso do Sul tem a oportunidade de se destacar como referência em práticas sustentáveis. Mesmo sem o apoio explícito de Trump, a pressão internacional por ações climáticas pode criar novos mercados para o estado, especialmente na exportação de créditos de carbono e na liderança em sustentabilidade agroindustrial.
Empresas como a JBS já estão investindo em rastreamento de carbono. Mato Grosso do Sul pode atrair mais empresas do setor com incentivos fiscais e políticas de certificação. (Fonte: BBC)
Diversificação de mercados: aprendendo com os riscos do passado
A dependência de mercados específicos, como a China, é uma faca de dois gumes. Enquanto Trump prioriza parcerias bilaterais, o Brasil e MS devem adotar uma estratégia de diversificação de mercados.
Riscos evidentes
• Em 2020, a suspensão temporária de compras de carne brasileira pela China evidenciou a fragilidade de depender de um único mercado. (Fonte: Globo Rural).
Oportunidades estratégicas
• Oriente Médio e África: Mercados em crescimento que demandam alimentos e tecnologia agrícola.
• Parcerias tecnológicas: Buscar colaborações com países estratégicos para implementar soluções tecnológicas no agronegócio, como inteligência artificial e monitoramento climático.
O BRICS e Mato Grosso do Sul
A crescente influência do BRICS, agora expandido com novos membros como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, cria oportunidades para Mato Grosso do Sul. O bloco oferece um mercado ampliado para commodities e a chance de fortalecer laços econômicos e políticos. O estado pode explorar essa conexão para diversificar suas exportações de carne, soja e outros produtos, aproveitando também parcerias tecnológicas dentro do bloco.
A geopolítica e o soft power de MS
Trump busca fortalecer a presença americana em cenários globais de poder, com ênfase em acordos bilaterais que favoreçam os EUA. Mato Grosso do Sul pode se destacar ao se posicionar como um estado estratégico, utilizando sua força no agronegócio sustentável, a preservação do Pantanal e as conexões logísticas como a Rota Bioceânica para mediar parcerias e diálogos entre grandes economias.
Como MS pode exercer soft power?
• Broker verde: Estabelecendo alianças entre países asiáticos e europeus, Mato Grosso do Sul pode focar em destacar sua produção agroindustrial certificada e as vantagens logísticas oferecidas pela Rota Bioceânica. O estado também pode priorizar setores como soja, carne bovina rastreada e celulose sustentável, que têm alta demanda global, usando o Pantanal como exemplo de sustentabilidade para atrair parcerias ambientais e comerciais.
• Eventos globais: Organizar conferências e feiras internacionais que atraiam líderes globais do agro e investidores interessados na preservação ambiental.
A Rota Bioceânica, conectando Mato Grosso do Sul ao Oceano Pacífico, pode reforçar o papel do estado como um hub logístico estratégico na América do Sul. Essa iniciativa não só melhora o acesso aos mercados asiáticos, mas também fortalece o soft power regional ao posicionar MS como um exemplo de integração econômica sustentável.
Transformando desafios em oportunidades
As políticas de Trump trazem desafios claros para o Brasil e Mato Grosso do Sul, mas também abrem portas para quem souber enxergar além do óbvio. Com análise profunda e ações estratégicas, o estado pode se posicionar como líder em economia sustentável e inovação agroindustrial.
O que Mato Grosso do Sul pode construir vai além das commodities: é uma visão de futuro onde o Pantanal, o agro e a inovação podem trabalhar juntos para criar um impacto global.
Fontes citadas no artigo:
1. Reuters – “Trump anuncia tarifas comerciais e reavalia acordos bilaterais”.
2. Valor Econômico – “Exportações brasileiras para a China crescem em meio à crise global”.
3. The New York Times – “Política ambiental dos EUA sob Trump”.
4. BBC – “Créditos de carbono como nova fronteira econômica”.
5. Globo Rural – “Impacto da dependência de mercados no agro brasileiro”.